sexta-feira, 8 de março de 2013

Uma história sobre Lúcia


Lúcia acordou cedo. O sol mal despontou, e ela já estava organizando papéis e pastas para encarar o dia. Uma xícara velha sobre a mesa e pão dormido. 

Ela tomava o café enquanto os minutos corriam naquela manhã silenciosa. Refletia sobre a jornada que teria. Tomava goles secos. Um olhar vazio. Pensou em cada “não” que receberia. Juntou a papelada. Pegou a primeira condução e saiu. 

O olhar de Lúcia diante das pessoas era desesperador. Nas mãos a foto do irmão debilitado no leito do hospital. Da família que mal conheceu, só restara este. Sem trabalho, a mulher caminha por entre as ruas quase sempre abarrotada, e conversa com um e com outro. 

Ela repetia a história inúmeras vezes. Entre uma abordagem e outra, moedas, o sim, o não e os olhares frios. O dia chegava ao fim e as lágrimas de Lúcia também. Voltava pra casa apertada no meio do ônibus. 

A foto do irmão suava nas mãos dela, quase como um amuleto. Lúcia vai descendo a ladeira em passos lentos. Duas mulheres a esperam a porta de sua casa. Janaína e Francisca bateram o portão do casebre e entraram com a mulher em silêncio.

Sentadas junto à mesa velha e suja jogaram seus papeis por cima. Cada uma pegou seu saco de moedas e organizadamente separavam o que arrecadaram no dia. Era um momento sagrado a divisão do lucro.

Lúcia ascendeu um cigarro, jogou a foto fora e pensou na próxima história para o dia seguinte.





Carla Kassis
{novembro de 2011}

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